Nada é mais incomodo que o silencioso bastar-se dos gatos.
O só pedir a quem amam. O só amar a quem os merece.
O homem quer o bicho submisso,
cheio de súplica, temor, reverência, obediência. O gato não satisfaz as necessidades doentias do amor.
Só as saudáveis. É muitas vezes apelidado de "Falso",
porque não aceita a nossa falsidade com ele e só admite afecto em troca de respeito pela individualidade.
O gato não gosta de alguém porque precisa gostar para se sentir melhor.
Ele gosta pelo amor que lhe é próprio, que é dele e ele só o dá se quiser.
O gato devolve ao homem a exacta medida da relação que dele parte.
Sábio e espelho. O gato é zen. O gato é Tao.
Ele conhece o segredo da não-acção que não é inacção.
Nada pede a quem não o quer.
(A.D.)
(A.D.)
Ode ao Gato
Os animais foram
imperfeitos,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça vôo.
O gato,
só o gato apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.
imperfeitos,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça vôo.
O gato,
só o gato apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.
O homem quer ser peixe e pássaro,
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
e todo gato é gato do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até os seus olhos de ouro.
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
e todo gato é gato do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até os seus olhos de ouro.
Não há unidade
como ele,
não tem
a lua nem a flor
tal contextura:
é uma coisa
só como o sol ou o topázio,
e a elástica linha em seu contorno
firme e sutil é como
a linha da proa de uma nave.
Os seus olhos amarelos
deixaram uma só
ranhura
para jogar as moedas da noite .
como ele,
não tem
a lua nem a flor
tal contextura:
é uma coisa
só como o sol ou o topázio,
e a elástica linha em seu contorno
firme e sutil é como
a linha da proa de uma nave.
Os seus olhos amarelos
deixaram uma só
ranhura
para jogar as moedas da noite .
Oh pequeno imperador sem orbe,
conquistador sem pátria,
mínimo tigre de salão, nupcial
sultão do céu
das telhas eróticas,
o vento do amor
na intempérie
reclamas
quando passas
e pousas
quatro pés delicados
no solo,
cheirando,
desconfiando
de todo o terrestre,
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do gato.
conquistador sem pátria,
mínimo tigre de salão, nupcial
sultão do céu
das telhas eróticas,
o vento do amor
na intempérie
reclamas
quando passas
e pousas
quatro pés delicados
no solo,
cheirando,
desconfiando
de todo o terrestre,
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do gato.
Oh fera independente
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico
e alheio,
profundíssimo gato,
polícia secreta
dos quartos,
insígnia
de um
desaparecido veludo,
certamente não há
enigma na tua maneira,
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico
e alheio,
profundíssimo gato,
polícia secreta
dos quartos,
insígnia
de um
desaparecido veludo,
certamente não há
enigma na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti e pertences
ao habitante menos misterioso
talvez todos acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios
de gato, companheiros,
colegas,
discípulos ou amigos do seu gato.
Eu não.
Eu não subscrevo.
Eu não conheço o gato.
Eu não subscrevo.
Eu não conheço o gato.
Tudo sei, a vida e o seu arquipélago,
o mar e a cidade incalculável,
a botânica
o gineceu com os seus extravios,
o pôr e o menos da matemática,
os funis vulcânicos do mundo,
a casca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
Minha razão resvalou na sua indiferença,
os seus olhos têm números de ouro.
Pablo Neruda
Azar é não ter um!
Deu pra perceber o quanto os gatos pretos são excluídos, não é? Gato preto só dá azar de não ter um! ou de não gostar deles! são animais lindos, que comparo à beleza das raríssimas onças-negras. Principalmente quando bem cuidados, os gatos pretos de pêlo curto, ficam com a pelagem lisa e brilhosa, lembrando cetim preto.
Tem gente que é devoto de São Francisco, mas não pode ver um gato preto na frente que já acha que o animalzinho é do mau e tem pacto com o capeta. Tem gente que se diz tão bondoso, mas dá veneno pro gatinho preto da vizinha para matá-lo. Outros, compram um gato Persa de mais de mil reais, mas não adotam um gatinho preto, que traria o mesmo amor, alegria e carinho que um gato dá. Para todas essas pessoas, digo: é hora de rever seus conceitos. É esse tipo de preconteito que matou tanta gente, e ainda mata pessoas inocentes todos os dias.
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